“O Senhor das Moscas” e a Teologia
- Diogo Crotti
- 24 de dez. de 2019
- 3 min de leitura

Breve resumo da obra: Um avião caí e somente os pré-adolescentes e as crianças inglesas sobrevivem, e passam a morar e desenvolverem suas vidas numa ilha, à espera de serem resgatadas. A decisão inicial tomada para intentarem o resgate foi a fogueira, cuja intenção, era fazer muita fumaça, visando serem visto por algum navio ou avião. A partir disto o conflito entre as duas personagens principais é instaurado.
Reflexão
Qualquer obra literária pode ser analisada de qualquer perspectiva, desde a sociologia, psicologia, e até mesmo a ciência teológica. Nesta breve reflexão a lente interpretativa do romance de William Golding “O senhor das moscas”, será a teologia.
Tudo indica, mas não sei ao certo, que o romance tem como pano de fundo, a segunda Guerra Mundial ou a Guerra Fria. Só Deus e o autor sabem o que havia na cabeça dele sobre isso. Seja qual for o contexto, pretendido pelo autor entre as “guerras”, é certo que as duas personagens principais: Ralph e Jack, representam muito bem a democracia (Ralph) e o autoritarismo (Jack).
Ralph é um líder carismático e transmite muita confiança nos seus liderados, e devido a isso, é eleito como o líder de todos, já que Jack já tinha seu pequeno exercício. Em todo momento Jack contraria Ralph objetivando tomar o controle absoluto e tornar-se o líder principal do grupo. Em meio a isso temos a figura de Porquinho, cuja participação é sensata, e é uma espécie de conselheiro do Ralph, embora incapaz de tomar alguma decisão, pelo que percebi do romance, pela sua autoestima baixa, e ser motivo de chacota constante, ou seja, as palavras das outras crianças, abafavam seu potencial de ser!
Em meio a trama eles lutam pela sobrevivência em busca de comida (carne de porco), aqui Jack toma a frente e começa a caça-los, e quase todos os liderados de Ralph, vendem-se por carne! Ficando somente Porquinho e os gêmeos com ele. Sem ser nenhum gênio não posso deixar de pensar na história bíblica do povo de Israel, que longe do Egito (autoritarismo), reclamavam a Moisés: “queremos carne. No Egito erramos escravos, mas pelo menos tínhamos comida.” Pobres miseráveis! Politicamente falando muita gente vende seu voto por um pão com alguma coisa dentro.
A revolta é estabelecida. Jack, o pré-adolescente imbecil, impõe sobre todos o medo, utilizando seu poder. Mata um adolescente e começa a perseguir Ralph com o mesmo intento. Aqui a história é elucidada e as expressões bem delineadas, Jack, fez tudo pelo poder, passou por cima de todos os que o contrário, buscou apenas sua vontade, revelando-se o líder da pior espécie, o qual vive em prol de si e para si mesmo!
Toda a Escritura é enfática em afirmar que todos nascemos em pecado e somos corruptos por natureza. O mal instalado em nós representa a faceta ontológica do pecado herdado de Adão, isto é, o pecado é a essência do que somos, cujo a reverberação, é a transgressão. Em suma: pecamos porque somos pecadores, e a manifestação de pecado, aparece no desejo do nosso coração almejar o poder com o objetivo de dominação.
Jakc, queria ser visto, e idolatrado, mesmo que por imposição. Ralph, queria servir em amor e, a partir de decisões éticas, mas ao que tudo indica do romance, os pré-adolescentes e as crianças, optaram por venderem suas almas a um “prato de lentilha”. A magistral obra “O Senhor das Moscas”, embora não era a intenção do autor ser teólogo, expressa com precisão cirúrgica na alma, o primeiro ponto do calvinismo: a depravação total de todos nós! Embora Jack, o idiota, viveu no imediatismo, pensando apenas em comer, Jack obteve êxodo ao final do livro, onde o messias (soldado) aparece para resgatá-lo, e como expressão de misericórdia, todos, inclusive os traíras, foram levados de volta para casa.
Fiquei com raiva do Jack do começo ao final da obra, e infelizmente, há muitos deles presentes hoje em dia, e aos que tem o coração como o do Ralph, são relegados a inutilidade, porque são incorruptíveis em seus valores. Mesmo assim olhe sempre para os “Ralph’s”, e o livro termina assim: "Ralph chorava o fim da inocência, as trevas do coração humano, e a queda no abismo do amigo sincero e ajuizado chamado Porquinho."
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